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Comunicar ciência

Um blogue sobre comunicação de ciência em linguagem clara (antigo "Estrada para Damasco")

Uma hélice clara

29.01.20 | Cristina Nobre Soares

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Em 1953, James Watson e Francis Crick publicavam na revista Nature um artigo onde propunham uma estrutura “radicalmente diferente” para o ADN (ácido desoxirribonucleico). Propunham a famosa estrutura em hélice.

Fizeram-no apenas numa página, num artigo fluido, claro, com um fio narrativo impecável e por isso muito apelativo de ler. Nem os termos técnicos o tornam maçudo dado que estão “embebidos” numa linguagem simples, que toda a gente conhece. E conta uma história, ao longo da qual Watson e Crick estão presentes, ( “We believe (…)”, “we wish to suggest a structure (…)”, “It has not escaped  our notice (…)”), dão a cara e humanizam a descoberta, sem nunca tirar o protagonismo à ciência.

Uma das grandes descobertas da humanidade escrita de forma simples, pela mão dos próprios cientistas.

Assim até acreditamos que é possível escrever ciência clara.

Abelhas solitárias

27.01.20 | Cristina Nobre Soares

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 Elisabete Figueiredo é doutorada em ciências agronómicas e professora auxiliar no Instituto Superior de Agronomia. E este foi o texto que ela produziu na primeira edição do curso "Comunicar Ciência Clara".

 

Quem não gosta de mel?

O mel é fabricado pelas abelhas e serve para alimentar as suas larvas. As abelhas vivem  em colmeias, em comunidade, os enxame.  Nestes há uma rainha (que só põe ovos), as larvas e as fêmeas obreiras que cuidam das larvas e trazem comida (pólen e néctar das flores) para todos.

Ora, voltando ao mel, as abelhas produzem-no a partir do néctar das flores que visitam. E, como passeiam de flor em flor, conseguem fazer troca de pólen entre plantas. Por causa deste trabalho, as flores são polinizadas, ou seja, transformam-se em frutos.

Mas há muitas outras abelhas que não vivem em colmeias. Para estas não há rainhas e obreiras. Assim, cada abelha fêmea tem de encontrar um sítio para fazer um bom ninho. Pode ser o interior duma cana ou um furo numa parede; outras gostam de fazer ninhos no solo ou numa ladeira. Mas todas colocam no ninho ovo e pólen, para quando a larva nascer tenha alimento à sua disposição; e, depois, uma divisória, feita de terra ou folhas, para separar um novo “quarto” para outro ovo e mais um pouco de pólen e, por aí fora, até acabarem os seus ovos.

Estas abelhas são chamadas abelhas solitárias porque não vivem em enxames. São também polinizadoras e tão ou mais importantes para a polinização do que a abelha do mel. Mesmo na cidade de Lisboa há muitas espécies destas abelhas, em jardins e hortas.

Nos últimos tempos tem-se falado muito da morte das abelhas e da diminuição do número de abelhas em várias regiões. E aponta-se a utilização de pesticidas na agricultura e o também dos herbicidas, como causa importante desta diminuição. E não é só a abelha do mel que está a morrer. As abelhas solitárias também estão a morrer. Por este motivo a polinização pode estar em risco.

E o que podemos fazer para ajudar as abelhas?

Por exemplo, escolhendo para o nosso quintal, ou para as floreiras das nossas varandas e terraços, diferentes tipos de plantas, de maneira a ter algumas flores durante o máximo de tempo possível. De preferência plantas aromáticas de que as abelhas gostam, como é o caso do rosmaninho. E podemos ainda colocar casas-ninho. Estas podem ser compradas, mas também são muito fáceis de construir. Basta um bocado de madeira com alguns furinhos feitos com berbequim, ou um tijolo com terra no seu interior ou até mesmo um conjunto de canas de vários diâmetros cortados em pedaços de 20 a 30 centímetros.

Não conseguiremos destes ninhos ganhar mel para o chá de limão de que tanto gostamos, mas estaremos a ajudar as plantas a continuar a produzir frutos. E com isso estaremos a ajudar-nos a nós próprios.

 

Imagem: https://www.ecotricity.co.uk/

Falar sobre cancro

17.01.20 | Cristina Nobre Soares

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A Luísa Carreira trabalha em comunicação de medicina e participou na 2ª edição do  comunicar "Comunicar Ciência Clara" e como trabalho final escreveu este texto sobre como falar do cancro com doentes.

 

"Nem preciso de lhe perguntar se já ouviu falar de cancro, pois não? Sabemos hoje que um em cada três portugueses, nascidos nos últimos dez anos, terá cancro, mas a boa notícia é que também sabemos que mais de metade desses doentes sobreviverá à doença. E sim, o cancro é uma doença cada vez mais frequente, mas sabia que isso também significa que há uma melhoria dos resultados no tratamento dos doentes?

Esta melhoria deve-se, em grande parte, aos avanços registados na medicina. Mas será que, atualmente, a forma como o médico diz ao seu doente que tem cancro reflete estes avanços? Foi isso que tentei perceber com o meu trabalho.

Para isso, andei pelos Institutos Portugueses de Oncologia (IPO) a falar com médicos oncologistas. Mas não fui sozinha. Levei um gravador e um pequeno questionário: "Acha que a forma de encarar o cancro tem mudado nos últimos tempos?", "Como é que diz aos seus doentes que têm cancro?" ou "E isto dos meios de comunicação social falarem da doença, ajuda ou dificulta as suas consultas?.  Estas foram algumas das perguntas que lhes fiz, já que queria entender melhor o modo como falam e a linguagem que utilizam com os doentes.

E percebi que sim: atualmente, a forma como o médico diz ao seu doente que tem cancro reflete os avanços registados na medicina. O cancro é cada vez mais encarado como uma doença crónica, e não como uma sentença de morte, como antes achávamos assim que ouvíamos a palavra "cancro".

Com isto, a relação entre o médico e o doente também melhorou. Hoje, o médico não só trata o doente como também o aconselha, e o doente, pelo facto de se falar cada vez mais sobre esta doença, está mais informado e pronto para esclarecer as suas dúvidas nas consultas.

Assim, e como em tudo, descobri que o facto de evitarmos falar de uma coisa menos boa não significa que ela não exista ou que as nossas dúvidas desapareçam. Assim, será sem dúvida melhor falarmos aberta e claramente, sem medo das palavras, sobre o assunto. Sim, sobre o cancro."

Imagem: www.bbc.com

3ª edição do curso "Comunicar Ciência Clara"

15.01.20 | Cristina Nobre Soares

 

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Sabe explicar de uma forma simples o que é uma molécula? Ou uma gimnospérmica? Ou um macroinvertebrado?

Comunicar ciência para fora do meio científico não é uma tarefa fácil: a linguagem usada “entre pares” é difícil de perceber e a falta de um fio narrativo pode tornar os temas pouco interessantes e demasiado complicados. E facilmente se perde a oportunidade de passar uma mensagem que é importante para todos nós. Comunicar ciência de forma clara e acessível pode ser o caminho que nos leva a uma ciência para todos."

 

Como não há 2 sem 3, aí vem a 3ª edição do curso "Comunicar Ciência Clara" no Instituto Superior de Agronomia. (Sim, dado por mim)

Mais informações, programa e inscrições em: https://fenix.isa.ulisboa.pt/degrees/clccc

Ide, inscrevei-vos! Que eu lá vos espero. ;)

 

 

Aula Aberta no MARE

14.01.20 | Cristina Nobre Soares

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Foi assim, ontem,  a aula aberta “Comunicar Ciência Clara” que dei aos investigadores do MARE – Centro de Ciências do Mar e Ambiente / Cetemares – Politécnico de Leiria.

É sempre muito bom e gratificante ter uma audiência como esta, interessada e com boas perguntas. Daquelas que nos deixam a pensar.

Foi realmente uma boa tarde, onde ainda tive oportunidade de participar na sessão prática, “O que fazer diante dos órgãos de comunicação social”, dada pela Patricia Duarte, directora-adjunta do jornal “Região de Leiria”.

E foi também um nostálgico revisitar do ano 2000 e aos macroinvertebrados aquáticos de águas interiores (insectos que vivem na água doce), tema do meu trabalho final de curso. A vida é realmente toda ela uma estrada para Damasco.