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Comunicar ciência

Um blogue sobre comunicação de ciência em linguagem clara (antigo "Estrada para Damasco")

Sugestão de comunicação em tempos de coronavírus

16.03.20 | Cristina Nobre Soares

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Em vez de patologia digam:
a) Problema de saúde
b) Doença.

Uma coisa é dizerem patologia por uma questão de rigor médico. Outra é por acharem que fica mais solene. Não fica.

Morreu um homem de 80 anos com várias patologias associadas.
Morreu um homem de 80 anos que tinha vários problemas de saúde.

Outra dica é explicarem que problemas/patologias eram (asma? problemas cardíacos? cancro?). Ajudaria a perceber. E as pessoas querem perceber o que passa.

Ah, e muito menos digam "comorbilidades", como disse a Ministra Marta Temido...

Coronavírus, crise e linguagem clara

11.03.20 | Cristina Nobre Soares

Talvez uma coisa positiva que este coronavírus tenha trazido seja um maior despertar para a importância da comunicação clara. Todos os dias encontro por aqui publicações que falam sobre isso.

Pois é.

Fora da nossa zona de conforto (a menos que sejamos médicos ou outro tipo de profissionais na área da saúde) e com medo, clamamos para que nos expliquem o que se passa, como devemos agir, que riscos corremos. Que nos expliquem de modo a não ficarmos com dúvidas, sabendo que as dúvidas são umas das coisas que mais alimentam o medo. Que nos expliquem as coisas, como elas são, numa linguagem clara.

E temos tido bons exemplos disso. É o caso da Graça Freitas, directora-geral da DGS, que, ao contrário do atabalhoamento verbal da ministra da saúde, Marta Temido, na grande maioria das vezes passa a mensagem de uma forma clara e assertiva. Chamo a isso “serviço de utilidade pública”. Se não tenho problemas em fazer publicações irónicas (vá, de achincalhe, mesmo) sobre a forma como Marta Temido comunica, também louvo o esforço que Graças Freitas tem feito. Um exemplo a seguir.

Que esta crise do coronavírus também sirva para as pessoas perceberem de uma vez por todas que comunicar em linguagem clara não é infantilizar, não é reduzir a potencialidade da língua, não é limitá-la, mastigá-la, menosprezá-la. Comunicar de uma forma clara, especialmente conteúdos técnicos e científicos, é, sim, usá-la para serviço cívico. Esclarecermos os outros é um dever. Entender é um direito. E que se perceba também que o conhecimento não é só de quem o gera. É de todos.

Que esta crise do coronavírus traga consigo, no que diz respeito à forma de comunicar ciência, o outro significado da palavra crise: mudança.

Como escrever um texto científico consistentemente chato

09.03.20 | Cristina Nobre Soares

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  1. Não seja claro.
  2. Escreva com uma linguagem formal e muito snob.
  3. Escreva a metro. Ou ao quilo.
  4. Liste factos.
  5. Use muitos termos técnicos.
  6. Omita todas as explicações que são necessárias para as pessoas perceberem o texto.
  7. Fuja do humor. E da originalidade também.
  8. Não explique os números.
  9. Use maus gráficos.

Adaptação (muito) livre e pessoal de : Sand- Jensen, Kaj. “How to write consistently boring scientific literature”, (2007) Oikos 116: 723-727 

Técnico Revisited

06.03.20 | Cristina Nobre Soares

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A última vez que tinha entrado no Instituto Superior Técnico estava muito grávida da minha filha e absolutamente convencida que mal ela nascesse ia fazer a tese de mestrado num tirinho.
Nunca a entreguei.
Voltei ao Técnico hoje, para falar sobre comunicação clara de ciência.
Dos grupos mais interessantes e participativos ( e provocadores, também) que já tive.  O que vale é que a provocação foi mútua...