Talvez uma coisa positiva que este coronavírus tenha trazido seja um maior despertar para a importância da comunicação clara. Todos os dias encontro por aqui publicações que falam sobre isso.
Pois é.
Fora da nossa zona de conforto (a menos que sejamos médicos ou outro tipo de profissionais na área da saúde) e com medo, clamamos para que nos expliquem o que se passa, como devemos agir, que riscos corremos. Que nos expliquem de modo a não ficarmos com dúvidas, sabendo que as dúvidas são umas das coisas que mais alimentam o medo. Que nos expliquem as coisas, como elas são, numa linguagem clara.
E temos tido bons exemplos disso. É o caso da Graça Freitas, directora-geral da DGS, que, ao contrário do atabalhoamento verbal da ministra da saúde, Marta Temido, na grande maioria das vezes passa a mensagem de uma forma clara e assertiva. Chamo a isso “serviço de utilidade pública”. Se não tenho problemas em fazer publicações irónicas (vá, de achincalhe, mesmo) sobre a forma como Marta Temido comunica, também louvo o esforço que Graças Freitas tem feito. Um exemplo a seguir.
Que esta crise do coronavírus também sirva para as pessoas perceberem de uma vez por todas que comunicar em linguagem clara não é infantilizar, não é reduzir a potencialidade da língua, não é limitá-la, mastigá-la, menosprezá-la. Comunicar de uma forma clara, especialmente conteúdos técnicos e científicos, é, sim, usá-la para serviço cívico. Esclarecermos os outros é um dever. Entender é um direito. E que se perceba também que o conhecimento não é só de quem o gera. É de todos.
Que esta crise do coronavírus traga consigo, no que diz respeito à forma de comunicar ciência, o outro significado da palavra crise: mudança.