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Comunicar ciência

Um blogue sobre comunicação de ciência em linguagem clara (antigo "Estrada para Damasco")

Contar histórias.

19.07.20 | Cristina Nobre Soares

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Lina Kennedy, de robe, casou em França.

Foi assim que o meu professor de físico-química nos fez memorizar a coluna dos metais alcalinos da tabela periódica (Lítio, Sódio Potássio, Rubídio, Césio e Frâncio – Li, Na, K, Rb, Cs e Fr). E ainda hoje me lembro disto.

Veio substituir a professora que fora de licença de parto e tinha sempre uma história para introduzir a matéria nova. Como a cena da peça de teatro onde a mulher adúltera tinha de queimar a carta do amante para dar a deixa para que o actor que fazia de marido entrasse em palco, dizendo: “Senhora, que estranho, cheira-me a papel queimado!”. Mas que uma vez, com os nervos, a actriz, em vez de queimar a carta, rasgou-a em cena e o actor que fazia de marido, não se desmanchando, entrou em cena dizendo: “Senhora, que estranho, cheira-me a papel rasgado!”.
Depois olhou para nós e, antes nos explicar as propriedades da combustão, disse: apesar de ter salvado a cena, este actor deve ter sido seguramente um mau aluno a química.

Chamávamos-lhe o professor Barata, por causa da outra mnemónica, a dos metais alcalino-terrosos (Beba MagroCal, Senhor Barata – Berílio, Magnésio, Cálcio, Estrôncio, Bário e Rádio).

Ontem, dei-o, mais uma vez, como exemplo daquilo que é para mim o mais importante quando queremos comunicar, passar uma ideia ou conhecimento a alguém: entusiasmo naquilo que fazemos e dizemos. Entusiasmo. As histórias que contamos são apenas um corolário disso. E o primeiro passo a dar para o tal "fabuloso storytelling" é apenas este: paixão por aquilo que se faz.

O que dizem os outros (sobre o curso "Comunicar Agricultura e Floresta")

15.07.20 | Cristina Nobre Soares

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Tenho um certo pudor em falar do que os outros dizem de mim. Tanto o bom quanto o mau. Para mim, as opiniões dos outros apenas aos outros pertencem. Mas, quando alguém tem a generosidade de nos mandar um email destes, não é de vaidade que se trata, é de uma grande e boa sensação de missão cumprida. Ou, pelo menos, a sensação de que a tal estrada que se tomou há umas curvas e ravinas atrás será mesmo esta.

 

 “Chama-se Cristina Soares, é licenciada em Engenharia Florestal pelo Instituto Superior de Agronomia e blogger, dedica-se a escrever informação clara sobre a ciência e dá formação a quem quer saber mais sobre isso.

Assisti à formação Comunicar Agricultura e Floresta com a Cristina, e, durante três dias senti de tudo - incrédulidade, discórdia, interesse, confusão, desinteresse –, mas acabei a formação com a sensação que se o nirvana da comunicação existe, então é isto!

Acima de tudo fiquei com a sensação que a visão da Cristina é um apelo à inteligência. Ser inteligente na maneira de pensar, de falar e, consequentemente, de escrever. Ela queixa-se, e com razão, da falta de clareza na comunicação que é feita pelo setor florestal e agrícola em Portugal.

Do setor agrícola não posso falar porque não tenho voto na matéria, mas do florestal posso, e não posso deixar de concordar com a opinião dela.

A linguagem inacessível; a nominalização; os clichês; as “muletas” linguísticas; as palavras e termos caros que toda a gente entende mas que, na verdade, ninguém sabe o que significam, são o “pão nosso de cada dia” na comunicação do setor florestal.

Para ajudar, mistura-se isso tudo num texto com muito “apontar o dedo ao outro” num estilo passivo-agressivo, mas onde não se percebe bem quem estamos a acusar, serão os proprietários florestais, o governo, a indústria ou... os eucaliptos? (como os eucaliptos não se podem defender e há quem leve muito a sério o ditado popular “quem cala, consente”, acabam por ser eles o mal do país).

Depois de aprender que a comunicação do setor florestal fica aquém na linguagem e na estrutura, descobri que também o é na arte de contar histórias, e isto, foi o que mais me custou aceitar.

Somos um país com uma história que mete tantos outros “no bolso”. Desde o século XV que fazemos história mundial a traçar rotas pelo atlântico. O Pinhal que há 700 anos fornecia madeira às naus portuguesas ainda hoje é título de notícia (não pelas melhores razões, mas isso é outro assunto). Como é que um setor com tanta história pode ser um mau contador de histórias?

A minha aposta? Talvez o setor florestal em Portugal esteja desfasado. Talvez tenha estagnado com o êxodo rural que viveu na viragem do século, onde as novas gerações preferiram fugir do isolamento e procurar abrigo nas grandes cidades, levando consigo o futuro - a comunicação -, a inovação.

Enquanto vivermos num país onde o futuro é construído longe da floresta, independentemente do século em que ela se encontra será difícil, senão impossível, falarmos na mesma “língua”. “

2 de julho de 2020

Madalena Rascão

Adjunta para a Gestão Florestal Sustentável