Abelhas solitárias
Elisabete Figueiredo é doutorada em ciências agronómicas e professora auxiliar no Instituto Superior de Agronomia. E este foi o texto que ela produziu na primeira edição do curso "Comunicar Ciência Clara".
Quem não gosta de mel?
O mel é fabricado pelas abelhas e serve para alimentar as suas larvas. As abelhas vivem em colmeias, em comunidade, os enxame. Nestes há uma rainha (que só põe ovos), as larvas e as fêmeas obreiras que cuidam das larvas e trazem comida (pólen e néctar das flores) para todos.
Ora, voltando ao mel, as abelhas produzem-no a partir do néctar das flores que visitam. E, como passeiam de flor em flor, conseguem fazer troca de pólen entre plantas. Por causa deste trabalho, as flores são polinizadas, ou seja, transformam-se em frutos.
Mas há muitas outras abelhas que não vivem em colmeias. Para estas não há rainhas e obreiras. Assim, cada abelha fêmea tem de encontrar um sítio para fazer um bom ninho. Pode ser o interior duma cana ou um furo numa parede; outras gostam de fazer ninhos no solo ou numa ladeira. Mas todas colocam no ninho ovo e pólen, para quando a larva nascer tenha alimento à sua disposição; e, depois, uma divisória, feita de terra ou folhas, para separar um novo “quarto” para outro ovo e mais um pouco de pólen e, por aí fora, até acabarem os seus ovos.
Estas abelhas são chamadas abelhas solitárias porque não vivem em enxames. São também polinizadoras e tão ou mais importantes para a polinização do que a abelha do mel. Mesmo na cidade de Lisboa há muitas espécies destas abelhas, em jardins e hortas.
Nos últimos tempos tem-se falado muito da morte das abelhas e da diminuição do número de abelhas em várias regiões. E aponta-se a utilização de pesticidas na agricultura e o também dos herbicidas, como causa importante desta diminuição. E não é só a abelha do mel que está a morrer. As abelhas solitárias também estão a morrer. Por este motivo a polinização pode estar em risco.
E o que podemos fazer para ajudar as abelhas?
Por exemplo, escolhendo para o nosso quintal, ou para as floreiras das nossas varandas e terraços, diferentes tipos de plantas, de maneira a ter algumas flores durante o máximo de tempo possível. De preferência plantas aromáticas de que as abelhas gostam, como é o caso do rosmaninho. E podemos ainda colocar casas-ninho. Estas podem ser compradas, mas também são muito fáceis de construir. Basta um bocado de madeira com alguns furinhos feitos com berbequim, ou um tijolo com terra no seu interior ou até mesmo um conjunto de canas de vários diâmetros cortados em pedaços de 20 a 30 centímetros.
Não conseguiremos destes ninhos ganhar mel para o chá de limão de que tanto gostamos, mas estaremos a ajudar as plantas a continuar a produzir frutos. E com isso estaremos a ajudar-nos a nós próprios.
Imagem: https://www.ecotricity.co.uk/