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Comunicar ciência

Um blogue sobre comunicação de ciência em linguagem clara (antigo "Estrada para Damasco")

Como os ROVs nos ajudam a desvendar os mistérios do oceano.

12.08.21 | Cristina Nobre Soares

ROV_Luso.jpg

A Sónia Costa é Investigadora no MARE - Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (Polo da Madeira e Observatório Oceânico da Madeira) . É também gestora e Comunicadora de Ciência e Tecnologia na ARDITI – Agência Regional para o Desenvolvimento da Investigação, Tecnologia e Inovação e participou no "Comunicar Ciência Clara" que decorreu no MARE. No seu trabalho final a Sónia quis explicar-nos o que é um ROV e como é que os ROVs nos têm ajudado a desvendar os mistérios do oceano mais profundo.

 

 

O oceano sempre despertou a nossa curiosidade, mas apesar de todos os esforços para o conhecer, ainda esconde muitos mistérios. Aos poucos e com a ajuda de vários equipamentos, temos conseguido revelar alguns deles. Foi o que aconteceu em 2018, quando se observaram pela primeira vez no mar da Madeira, a 2000 m de profundidade, corais (animais do grupo dos cnidários que formam colónias e vivem fixos, no fundo do mar). Esta descoberta única na região só foi possível graças ao ROV, o ROV chamado Luso.

 

Mas, afinal, o que é um ROV?

ROV são as iniciais da expressão inglesa Remotely Operated Vechicle, que em português significa veículo operado remotamente. É um dos equipamentos mais fascinantes utilizados no estudo do oceano porque nos permite ver “em direto” zonas profundas do mar, o que de outra forma seria impossível. Aliás, é esta característica, a da transmissão de informação em tempo real, que torna os ROVs tão importantes no estudo e exploração do oceano. Com eles também conseguimos recolher amostras de água, sedimentos (isto é, areias, detritos), rochas, animais e plantas.

As zonas profundas, perigosas e confinadas, que não são acessíveis a mergulhadores, só podem ser exploradas com ROVs. Por exemplo, os ROV conseguem permanecer muitas horas seguidas debaixo de água e alcançam grandes profundidades (6 a 7 km), algo que os mergulhadores não podem fazer.

 

E como é que os ROVs fazem isto?

Bem, antes de mais, convém saber que estes veículos são controlados por uma pessoa, o piloto, que está fora de água, normalmente a bordo de um navio.  A ligação do ROV ao navio é feita por um cabo chamado “umbilical”, o qual é formado, por sua vez, por vários cabos individuais que transportam energia elétrica, sinal de vídeo, entre outro tipo de informações. O movimento do ROV debaixo de água faz-se por ação da rotação das suas hélices, que são controladas pelo piloto. Funciona como se fosse um carrinho telecomandado, mas dentro de água.

Existe uma grande variedade de ROVs, que variam no tamanho, peso, formato, agilidade e potência. Alguns são pequenos e pesam poucos quilos, enquanto outros chegam a pesar 4 a 5 toneladas (o mesmo que um elefante). Os ROVs maiores e mais pesados têm que ser colocados e retirados da água com a ajuda de guinchos ou guindastes.

Alguns destes veículos são bastante simples e estão equipados apenas com câmara de vídeo e luzes, mas os mais complexos têm diversos tipos de sensores, para medir parâmetros da água como a temperatura, a salinidade, o oxigénio, a profundidade. Além disso, também têm ferramentas capazes de agarrar, cortar, serrar, puxar, soldar, entre outras funções.

Para usar os ROVs de maiores dimensões, além do piloto, são precisos outros técnicos especializados. Uns controlam as comunicações, outros o cabo umbilical, outros analisam as imagens que o ROV transmite, entre outras funções importantes para o bom funcionamento do veículo. É aquilo a que chamamos uma equipa multidisciplinar.

Várias instituições portuguesas têm ROVs ao seu serviço, mas o mais conhecido e importante no estudo do mar português é o ROV Luso. Foi adquirido por Portugal em 2008 para estudar o mar profundo português e atualmente está ao serviço de toda a comunidade científica.

O Luso pode mergulhar até 6 km de profundidade, mas o máximo que já alcançou foram cerca de 3 km. Desde 2008, já fez 245 mergulhos e um deles foi feito no mar da Madeira, o tal que nos permitiu descobrir os corais de águas profundas. Mas as descobertas do Luso não ocorreram só aqui. Também foi com ele que se descobriu um novo campo hidrotermal nos Açores, ou seja, uma zona no fundo do mar por onde sai água quente do interior da Terra. Na realidade, desde que está ao serviço de Portugal, o Luso já recolheu milhares de amostras do nosso mar profundo, as quais têm sido estudadas por vários grupos de cientistas e fornecido informação importante para o avanço do conhecimento. Entre outros estudos, incluem-se as possíveis aplicações dos minerais e seres vivos encontrados nas áreas tecnológica, farmacêutica e médica.

 Sem dúvida que os ROVs têm sido um aliado preciso na exploração do oceano,  desvendando os mistérios e mostrando-nos  as maravilhas existentes nas profundezas do mar.

 

Imagem: O ROV "Luso".