Fio Narrativo
"Tem-se comumente observado que alguns monarcas em estado de viuvez apresentam alguma propensão para casar com indivíduos do sexo feminino portadores de distúrbios narcísicos, os quais, com elevada frequência, afectam a socialização com enteados. Em Grimm & Grimm (1822) são observados alguns desses comportamentos, que podem ser considerados, segundo estes autores, como patologia extrema, especialmente os relacionados com o enviesamento do reflexo da sua própria imagem.
Neste trabalho foi observado que o convívio com um número primo de indivíduos portadores de nanismo pode, por si só, constituir uma terapia provisória para os enteados rejeitados. Igualmente, observou-se que o consumo de certas variedades de pomóideas submetidas previamente a manipulação química, pode induzir estados narcolépticos, os quais apenas passíveis de serem quebrados através de troca de fluidos salivares entre um individuo de sexo masculino e outro do sexo feminino."
Se a história da Branca de Neve fosse escrita em forma de abstract seria mais ou menos assim. Este é um exemplo que mostro nas minhas formações, brincando com a linguagem "dos pares".
Mas mesmo mudando a linguagem de modo a que ficasse mais clara, sem jargão e menos formal, falta aqui uma coisa muito importante: o fio narrativo. Sem este, não há história, apenas uma lista de asséptica de factos, chata de morrer. E não, nem sempre os factos falam por si. Aliás, se o fizessem de forma infalível, provavelmente não haveria fakenews.
O fio narrativo, a história, é uma peça imprescindível na comunicação de ciência. É esse fio que há milhares de anos liga narradores e ouvintes, evitando os becos sem saída de uma comunicação que não se faz para todos e guiando-nos pelos labirintos daquilo que achamos que "não é para nós". Tal e qual um fio de Ariadne.