Um gira-discos, giz e um quadro
A melhor apresentação na área das ciências a que assisti até hoje foi a de um colega de turma, quando frequentei o mestrado de Sistemas de Informação Geográfica do Técnico.
A disciplina em questão era Detecção Remota, a qual falava de coisas como imagem de satélite e análise dessas imagens (por exemplo, para contabilizar áreas ardidas). Tínhamos de escolher um tema e apresentá-lo em 15 minutos. Eu escolhi falar sobre um projecto da NASA, e fiz uma coisa muito armada aos cucos, tão armada aos cucos, que ninguém percebeu sobre o que era.
Justiça seja feita, o meu trabalho não foi o único a sofrer do mesmo mal. Um após outro, os alunos iam apresentando coisas muito complexas, com slides a transbordar de informação em Arial 10. Coisas chatíssimas de morrer.
Até que um dos alunos, o Gonçalo, se levanta para apresentar o seu trabalho com um gira-discos portátil e um vinil debaixo do braço. Antes de pôr o vinil a tocar esclareceu-nos que iríamos ouvir uma peça de Brahms. No fim da peça, pegou num pedaço de giz e disse: esta peça só chegou até nós porque uma parte do espectro electromagnético a salvou. Através dela conseguiu-se recuperar um único disco desta peça, que estava extremamente danificado. Olhou para nós (ainda todos em silêncio) e acrescentou sorrindo: não sei se esta história é verdade, foi-me contada por um professor, mas achei que era uma boa forma de começar a minha apresentação.
A partir daí, a apresentação foi feita apenas com giz e quadro, explicando como o processo tinha sido feito, sem qualquer outro recurso. Mas também não era preciso, nós, que o ouvíamos, já estávamos rendidos.
Nesse dia aprendi o poder de uma boa história. E como estas nos podem dar bons encontros com a ciência. Para mim este, através do Gonçalo, foi inesquecível.